O ensino de uma segunda língua na infância ainda
causa desconfiança em algumas pessoas. Umas acham que é desnecessário, outras
dizem que a criança pode desenvolver o segundo idioma mais tarde, sem que haja prejuízo
nesse aprendizado. Porém um fato é inquestionável: a criança que aprende uma
segunda língua na infância não enxerga a sua língua materna como regra, ela é
capaz de vislumbrar outros idiomas e desenvolver outras habilidades que a
ajudam a se desenvolver com plenitude.
Outro ponto inquestionável é que todo ser humano
nasce com o cérebro pronto para aprender línguas. Inclusive tal habilidade é
mais aguçada entre os dois e quatro anos de idade e, conforme os anos vão
passando, a capacidade de aprender novos idiomas com facilidade vai se
perdendo, já que o período mais apropriado para a internalização da língua
acontece na infância.
Quando o cérebro é estimulado a aprender novas
línguas nos primeiros anos, ele responde imediatamente ao estímulo e vemos o
aprendizado de idiomas em crianças acontecer de maneira rápida e extremamente
eficiente, logo, quando comparamos esse fato com a aprendizagem de idiomas em
adultos, percebemos o quão difícil se torna o desenvolvimento da segunda
língua.
Nesse sentido, a criança demonstra menos dificuldades
durante o processo, pois os sons e o ritmo do segundo idioma não lhe causam
estranheza e ela ainda não é capaz de pensar metalinguisticamente sobre essa
aprendizagem – sendo esses, fatores favoráveis ao desenvolvimento de uma nova
língua.
O cérebro infantil é altamente aberto a diferentes fontes
de informação. A criança que cresce em um ambiente bilíngue tem uma
percepção diferenciada do mundo que a cerca. Ela aprende que tudo tem dois ou
mais nomes, duas ou mais classificações, assim, ela se torna mais flexível ao
interagir com outras pessoas e ao pensar sobre as resoluções dos problemas.
Ademais, a aquisição de uma nova língua e o
desenvolvimento da consciência linguística da mesma ocorrem simultaneamente
durante o desenvolvimento infantil. A criança, mesmo sem ter ciência, organiza
e armazena conhecimento linguístico, nos dois idiomas, através da experiência,
da construção de hipóteses e da repetição de palavras e vocábulos que ela ouve,
levando em consideração o contexto social em que esses termos foram usados.
O raciocínio lógico de uma criança bilíngue é mais
desenvolvido, a capacidade de superar obstáculos e solucionar problemas é muito
maior, o que faz com que ela aprenda novos conteúdos e disciplinas com mais
facilidade. Os próprios processos de aprendizagem acontecem de forma mais
fluida e a captação de informações se dá de maneira mais rápida.
Todo o mecanismo de aquisição de dois idiomas na
infância tem impactos diversos na vida da criança, a maneira como ela percebe o
mundo e interage com os outros, utilizando as línguas que ela tem aprendido.
O bilíngue consegue se concentrar com mais
facilidade. Em ambientes superlotados e barulhentos, ele filtra os ruídos e
direciona sua atenção para aquilo que é de seu interesse.
De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Neurociências Integradas de
São Francisco, nos EUA, o bilinguismo
altera o cérebro e, nesse processo, melhora o processamento auditivo e o
cognitivo da criança.
O indivíduo bilíngue enxerga muito mais opções ao
ter um diálogo, ao tomar uma decisão e ao planejar uma ação, pois está
acostumado a manejar duas línguas diferentes. Assim, o mundo, para ele, é muito
mais complexo e cheio de possibilidades.
Renata
Pontes Barreiros
Coordenadora
Pedagógica do Bilíngue
Graduada em Letras - UERJ
Pós Graduada
no Ensino de Línguas - UERJ
Mestre
em Educação – Área de Currículo e Linguagem - UFRJ
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