A RELAÇÃO QUE O ALUNO ESTABELECE COM A ESCOLA ESTÁ
INTRINSECAMENTE RELACIONADA À SIGNIFICAÇÃO QUE A FAMÍLIA DÁ A ELA.
A criança, ao chegar à escola, traz consigo aspectos
constitucionais e vivências familiares e o ambiente escolar será também uma
peça fundamental em seu desenvolvimento. Estes três elementos - aspectos
constitucionais, vínculos familiares e ambiente escolar - constituirão o tripé
do processo educacional.
A função da escola é educar, isto é, conforme o significado
etimológico da palavra, “colocar para fora” o potencial do indivíduo e oferecer
um ambiente propício ao desenvolvimento destas potencialidades, ao contrário de
ensinar, que é in + signo, ou seja, colocar “signos para dentro” do indivíduo.
Um dos aspectos a ser desenvolvido e estimulado, nesta fase, pela escola, é a criatividade, aspecto este primordial na situação de aprendizagem. A criatividade, na adolescência, articula-se necessariamente com a noção de limites. Limite é uma palavra que tem, muitas vezes, uma conotação negativa, ligada erroneamente à “repressão”, “proibição”, “interdição” etc.*, inclusive lembrando “repressão política”. No entanto, limite é algo muito além disso: significa a criação de um espaço protegido, dentro do qual o adolescente poderá exercer sua espontaneidade e criatividade sem receios e riscos. Precisamos lembrar que não existe conteúdo organizado sem um continente que lhe dê forma.
É necessário enfatizar que as crianças e os adolescentes
“pedem limites” e que o “limite” os ajuda a organizar a mente. Os adultos, às
vezes, não colocam “limites” porque assim será mais “cômodo”. Colocar limites
significa envolvimento, “conter” o adolescente, suportar suas reclamações e
protestos, enfim, enfrentar dificuldades. A falta de “limites” impede o adolescente de
exercitar sua capacidade de pensar, de ser criativo e espontâneo e, na
adolescência, é causa da insegurança e da incapacidade de tomada de decisões. A noção de “limites” se desenvolve num longo
processo de identificação da criança e do adolescente com seus pais,
inicialmente, e, depois, com os adultos que a sociedade disponibiliza como
professores, artistas, desportistas, políticos
etc.
O que confere à escola importância vital no processo de
desenvolvimento do adolescente é o fato dela
ser um espaço que propicia uma simulação da vida, na qual existem regras
a serem seguidas, mas que se pode transgredi-las sem sofrer as consequências impostas pela sociedade, e de ser esta a
oportunidade de se aprender com a transgressão.
Deve-se levar em conta, também, que a relação do aluno com a
escola é afetada pela significação que os pais dão a ela, aos estudos de seu
filho e às relações dele com os demais alunos.
O desejo de saber e obter prazer pelo saber certamente está
mediatizado em primeiro lugar pelos pais e, depois, mais tarde, pelos
professores e pela escola. Um pode compensar o outro, ou até anular seus
efeitos.
A escola não oportuniza somente a relação com o saber e,
como uma atividade eminentemente grupal, tem também funções de socialização. Em
busca de sua identidade, o adolescente encontra na micro-sociedade da escola um
sistema de forças que atuam sobre ele, onde, entre outras coisas, reedita seu
ciúme fraterno, compete, divide, rivaliza, oprime e é oprimido, ou seja, reproduz
o sistema social. É por esta razão que a escola, muitas vezes, pode detectar
dificuldades no processo de desenvolvimento do aluno, que aparece por inteiro
na busca de si mesmo, e seu olhar sobre ele é, em geral, menos comprometido
emocionalmente do que acontece com os pais.
É muito importante, portanto, que exista (se podemos chamar
desta forma...) uma “relação de confiança” entre a família e a escola
escolhida. Vemos, com frequência, os pais criticarem a filosofia pedagógica da
escola escolhida na presença dos filhos, de uma forma que predispõe o
adolescente contra a escola. Evidentemente, críticas existirão de parte a
parte, mas elas deverão ser tratadas nos “canais de comunicação” adequados que visem à ligação do binômio família-escola.
É extremamente necessário que se evitem dissociações (tão
frequentes...) em que os pais criticam a escola (projetando na instituição
todos os aspectos negativos do processo ensino-aprendizagem e, por vezes, da
conduta dos filhos) e que a escola, por sua vez, faça o mesmo (projetando na
família todas as incompetências, falta de colocação de limites, falta de
participação etc.) . A criação de uma “comunidade realmente operante” poderá
tornar a relação família-escola mais integrada e com menos “distorção e ruído”
na comunicação. Convenhamos que os adolescentes são, em algumas situações,
hábeis em promover dissociações entre, por exemplo, pai e mãe, entre família e
escola etc.
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA - ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ENSINO FUNDAMENTAL II
CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA PARA
REFLEXÃO
Texto adaptado do ARTIGO de José
Outeiral,
A ADOLESCÊNCIA, A CRIATIVIDADE, OS LIMITES E A ESCOLA.
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